Jornalistas de diferentes regiões se encontraram no evento para construir reportagens sobre temas socioambientais com apoio técnico e científico
24/jun/2025
Durante o último dia do Festival 3i 2025, a Sala Colaborativa se transformou em um espaço vivo de criação coletiva, onde jornalistas de diferentes regiões do Brasil compartilharam conhecimentos, afinaram pautas e deram início à produção de reportagens que serão desenvolvidas em conjunto ao longo dos próximos meses, com publicação prevista até novembro, às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, em Belém (PA).
A dinâmica, coordenada por Thayane Guimarães, Stéfano Wrobleski e Juliana Mori, – coordenadora de redes, diretor executivo e diretora editorial da InfoAmazonia, respectivamente –, foi pensada como um laboratório de jornalismo colaborativo com foco em coberturas socioambientais. Ao longo de quatro horas, grupos formados por veículos independentes trabalharam lado a lado para planejar grandes reportagens com apoio científico, orientação técnica e visão estratégica de impacto.
Logo nas primeiras horas, os grupos passaram por uma imersão metodológica com apoio de quadros no Miro, que ajudaram a destrinchar os elementos essenciais das reportagens: escopo da pauta, levantamento de fontes, bases de dados, produtos finais, divisão de funções, estratégias de divulgação e previsão de impacto.
Cada grupo recebeu acesso colaborativo a um quadro individual, onde trabalharam de forma simultânea e organizada. Além disso, tiveram acesso a uma consultoria científica com Caio Mattos, consultor junto ao Instituto Serrapilheira, que fez um rodízio por grupo para ajudar a antecipar desafios técnicos e oferecer sugestões de fontes, metodologias ou análises complementares.
“A gente quer mostrar a mancha da escassez de água potável no estado do Amazonas, e como ela se cruza com problemas de saúde, especialmente em Manaus, Tefé e Lábrea”, explicou um dos participantes da pauta desenvolvida em parceria entre o Vocativo e ((o))eco.
Após esse momento, os grupos passaram a mapear riscos e montar um cronograma de execução para os próximos 90 dias. A proposta incluiu desde possíveis atrasos logísticos até negativas de fontes-chave, com elaboração de planos de mitigação para cada cenário.
A divisão de recursos e a escolha do veículo responsável pela gestão do orçamento também fizeram parte da discussão, com orientação sobre prestação de contas e alinhamento entre os CNPJs envolvidos.
Três grandes reportagens começaram a ganhar forma na Sala Colaborativa. Todas tratam de temas ambientais com forte impacto social e previsão de publicação em múltiplos formatos, como texto, vídeo, infográficos e webinários.
Sede na Amazônia – por Vocativo e ((o))eco
A pauta investiga a escassez de água potável na maior bacia hidrográfica do mundo. Mesmo cercadas de rios, comunidades amazônicas sofrem com a má qualidade da água, que se agrava com o avanço das mudanças climáticas. A reportagem revelará o impacto social, ambiental e de saúde pública da crise hídrica.
Depois do buraco – por Revista Amazônia e Nexo Jornal
Em três atos, a pauta vai explorar os royalties da mineração e do petróleo na Amazônia: como os recursos estão sendo usados, os riscos de novas dependências econômicas e as alternativas sustentáveis para o futuro da região. A proposta é conectar dados técnicos com histórias locais, usando os veículos como pontes entre os territórios amazônicos e o debate global, com distribuição estratégica durante a COP30.
Matopiba em chamas – por Portal Assobiar e Repórter Brasil
A reportagem vai revelar o custo oculto do avanço do agronegócio no sudoeste maranhense, onde o desmatamento e o uso de agrotóxicos têm contaminado comunidades inteiras. A pauta cruza dados de ataques químicos com a localização de assentamentos da reforma agrária e prevê produtos jornalísticos em texto, vídeo, mapas e storymaps, com o objetivo de mobilizar tanto o poder público quanto organizações populares.
“Nosso desafio vai ser entender, a partir do cruzamento de dados, quais comunidades estão sendo mais impactadas e como essas histórias podem ser contadas com profundidade”, afirmou uma das participantes da equipe do Portal Assobiar.
Ao final do encontro, as equipes compartilharam suas apresentações em slides, destacando não só o tema, mas também como a colaboração entre os veículos vai se dar na prática: quem apura, quem edita, quem viaja e quem visualiza dados.
Para Thayane Guimarães, a experiência foi mais do que um planejamento técnico: “A ideia é que os grupos não só produzam boas reportagens, mas também pensem no impacto, na segurança, e na formação. Esse espaço é um braço de formação e fortalecimento do jornalismo independente”.
Os próximos meses serão acompanhados por reuniões mensais e sessões de orientação com cientistas e profissionais de referência, além da possibilidade de oficinas específicas sobre temas como segurança em campo, uso de IA ou visualização de dados.
Mais do que uma sala, o espaço se revelou um laboratório de práticas colaborativas, onde o jornalismo ganha força na escuta, no planejamento conjunto e no compromisso com pautas que importam.
Matéria produzida pela equipe de estudantes de Jornalismo da PUC-Rio, em parceria com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor). Supervisão: profª Itala Maduell.
Foto: Gabriela Falcão/Festival 3i.