Por Emerson Saboia, da Universidade Católica de Pernambuco
De acordo com o Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, pesquisa em parceria com a Universidade de Oxford, 54% dos brasileiros não consomem o noticiário, enquanto os jovens dizem evitar as notícias por serem “difíceis de acompanhar”. Foi com esses dados que Nayara Felizardo, repórter investigativa do The Intercept Brasil e cofundadora da newsletter Cajueira, iniciou a mediação da mesa “Pensando fora da caixa: como encontrar sua audiência”, na edição Nordeste do Festival 3i. O evento aconteceu na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) durante o último sábado (19).
A mesa recebeu Natali Carvalho, redatora da newsletter Garimpo no Núcleo Jornalismo; Mariama Correia, cofundadora da newsletter Cajueira; Raphael Kapa, coordenador de produtos na Lupa e Thiago Guimarães, criador de conteúdo no canal OraThiago e colaborador no Aos Fatos. Os cinco participantes debateram as possibilidades que o digital oferece ao jornalismo, em contraponto aos desafios que a chamada “era da informação” impõe aos comunicadores. A conversa gerou uma série de conjecturas sobre audiência e produção de conteúdo jornalístico na região Nordeste.
Mariama começou a discussão com um questionamento justamente voltado para o cenário regional: “Quando é que o Nordeste entra na pauta? Quando tem seca, quando tem fome, quando tem carnaval… é assim que é mostrado”. A jornalista do Cajueira ainda completou, “As pautas que acontecem no nordeste geralmente são vistas como pautas regionais”. Correia também é repórter e editora na Agência Pública, cobrindo pautas nordestinas, e defendeu que os assuntos da região têm relevância nacional. Segundo ela, “O Cajueira nasceu dessa potência que o jornalismo do nordeste tem”. A newsletter faz curadoria de conteúdos produzidos pelo jornalismo independente nos estados do NE.
Em seguida, a jornalista Natali Carvalho falou em nome de outra newsletter: a Garimpo. A iniciativa une assuntos que estão bombando na internet, política, a linguagem rápida da geração e humor. “A gente teve que ver um formato de contar política que não fosse no formato engessado da redação”, explicou Natali. A redatora do Núcleo Jornalismo também disse que o processo de produção da Garimpo envolve “dois jeitos de a gente cortar histórias: os assuntos que já estão em alta na internet e os que ainda as pessoas não estão acompanhado”.
Representando a perspectiva sudestina, o jornalista e professor universitário Raphael Kapa explicou sobre seu trabalho na Agência Lupa, combatendo fake news. O veículo começou a experimentar outros canais de informação, como o TikTok e, depois de uma série de tentativas, encontrou um formato que vem retornando engajamento para a Lupa. “A gente começou a ver que somos muito pautados nas redes sociais pela verificação”, justificou Raphael quando perguntado sobre o porquê da preocupação em estar presente nas redes sociais.
Por último, Thiago Guimarães dividiu com o público na Unicap suas experiências na produção de conteúdo para a internet. Ele produziu uma série de vídeos em parceria com o Aos Fatos durante as eleições de 2022. “A desinformação não é orgânica. Tem gente por trás querendo contar uma história”, explica o criador de conteúdo. Guimarães era o único convidado da mesa que não é jornalista e, sob a perspectiva de um profissional que trabalha exclusivamente nas redes, defendeu: “A intertextualidade é uma coisa muito importante para a audiência, para prender as pessoas”.
Assista à mesa na íntegra:
*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i Nordeste entre a Ajor e a Unicap (Universidade Católica de Pernambuco).