NOTÍCIA

Convidados debatem desinformação e fact-checking durante conversa no jardim do Festival 3i Nordeste. Foto: Morgana Narjara dos Anjos

Conversas no Jardim: jornalistas discutem checagem de fatos, jornalismo de dados e tecnologia

O estudante Luiz Rodolfo Libonati, do Foca no 3i, traz os bastidores do debate sobre desinformação no Festival 3i Nordeste

dez 05, 2022

Por Luiz Rodolfo Libonati, da Universidade Católica de Pernambuco

No panorama da chamada “era da informação”, o fluxo digital ininterrupto das notícias está entre os marcadores da nova forma de se consumir conteúdo informativo. Com essa transformação tecnológica, a comunicação demanda novas formas de acesso à informação e também de cobertura jornalística. Hoje, a ronda atenta do fact-checking se faz indispensável na busca por garantir a transparência em um debate público disputado pela desinformação.

Representando algumas das iniciativas jornalísticas, do Nordeste e de todo Brasil, comprometidas ao combate às notícias falsas, compuseram a roda de conversa “Combatendo a desinformação”, no Festival 3i Nordeste, Lucas Maia, diretor de tecnologia na plataforma jornalística de dados Agência Tatu (AL); Ana Rita Cunha, diretora de estratégia e comunidades na investigativa Aos Fatos (RJ); e Carmen Carvalho e Victória Meira Amaral, respectivamente professora e repórter da editoria Xereta do jornal-laboratório Avoador (BA), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, em Vitória da Conquista.

“A gente percebeu que muitas checagens focam no eixo Rio-São Paulo, ou no debate presidencial, enquanto o debate no Nordeste acaba ficando negligenciado”, diz o jornalista Lucas Maia ao tratar da intenção de ocupar essa lacuna no contexto local com a iniciativa jornalística alagoana.

Representando o Aviador, projeto extensionista da UESB, a professora Carmen Carvalho destaca o papel universitário na defesa de um ambiente informativo mais democrático. “Trabalhamos a formação dos nossos alunos e combatemos a desinformação”, pontua. “Desde 2018, criamos a editoria Xereta e temos trabalhado fazendo a verificação de conteúdo viral e falas de políticos. Neste ano, a gente também atuou para levar o jornalismo comprometido com a apuração e mitigar a desinformação no interior da Bahia”.

“Dar contexto aos fatos”

Saber o contexto político de determinado lugar também é central na verificação de notícias, afirma Ana Rita Cunha, do Aos Fatos. “Checagem parece uma coisa super simples, mas, no fim das contas, é dar contexto às coisas. Se você não está ali, não conhece político, não sabe a trajetória, você pode perder nuances muito importantes”, explica. Nesse sentido, a professora Carmen Carvalho explicou como esse aspecto é abordado em sala de aula. “Trabalho a perspectiva de que o jornalismo é transformador e, dessa forma, incluir a verificação é qualificar esse trabalho, porque o estudante não vai só repetir a fala do político, vai saber onde buscar os dados, por que e como”, conta ela.

Perguntada por Lucas sobre o processo de escolha daquilo a se checar e da forma como é medido o impacto sobre leitores, Ana Rita ressalta o cuidado em não visibilizar a desinformação que se encontra restrita a um grupo pequeno: “Quanto mais cedo você checa, maior o impacto na contenção da mentira”. Um exemplo desse balanceamento foi a cobertura, em 2018, do assassinato de Marielle Franco, quando foi disseminada a falsa associação da vereadora com o tráfico de drogas. Após checagem, foi possível observar essa onda baixar e o boato se dissipar. Segundo ela, “é sempre um desafio saber se você não está tirando a desinformação da bolha”.

Tecnologia como arma

“O que é que vai ser agora da desinformação, sem ter um presidente desinformador ou que não desinforma da forma como é agora?”. A partir da reflexão de Ana Rita, entra em discussão um cenário novo com a perspectiva de que o conteúdo informativo deturpado, até então legitimado pelo presidente, se formule de uma oposição. Em cenários assim, se reafirma enquanto braço forte do fazer jornalístico a tecnologia, explica Lucas, que na Agência Tatu utiliza o bot Dandara, inteligência artificial elaborada pelo veículo. “O bot acaba ajudando quando pego as mensagens que foram mais compartilhadas e descubro o que está circulando mais com aquelas palavras-chaves que eu decidi monitorar”.

Outro ponto levantado por Lucas é a credibilidade das checagens de fatos em um panorama onde quem compartilha das fake news aparenta não querer ceder ao conteúdo apurado. “Aí vem uma questão: quem eu poderia chamar para falar? Vamos procurar alguém que entenda do assunto e aí tentar dar uma visão lateral sobre”, relata. Para Ana Rita, vale o exercício de se perguntar quais elementos fazem o consumidor acreditar em uma notícia distorcida. “Quem checa o checador? A gente sempre responde: é o leitor. A ideia da checagem é que tenha ali todas as provas, para que a pessoa possa fazer o próprio caminho”, completa. Como diz a regra básica do jornalismo, escrever para quem lê.

Assista à mesa na integra:

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i Nordeste entre a Ajor e a Unicap (Universidade Católica de Pernambuco).