NOTÍCIA

Festival 3i 2025: Quem conta um conto sem aumentar um ponto, histórias jornalísticas em diferentes linguagens

Mesa do evento explora como narrativas jornalísticas têm se reinventado por meio de diferentes linguagens, formatos e estéticas

POR Luana Bentes |

06/jun/2025

Por muito tempo a jornalista pernambucana e fundadora da Contente, Daniela Arrais, sonhou em escrever um livro, e como muitas mulheres, hesitou. “Eu sempre tive o sonho de ser escritora, mas tinha muito medo”, confessa. O convite para publicar veio, e com ele, o pânico. Mas foi justamente da insegurança que nasceu o livro “Para todas as mulheres que não têm coragem”, lançado no último mês de abril. A jornalista participou nesta sexta (6) do Festival 3i 2025, integrando a mesa “Quem conta um conto sem aumentar um ponto: histórias jornalísticas em diferentes linguagens”, ao lado de Maickson Serrão e Victor Moura, com mediação de Mariana Filgueiras.

“Por muito tempo eu pensava: por que eu vou falar? O que eu tenho para dizer? Mas resolvi escrever esse livro costurando várias questões e convidar as pessoas a refletirem junto”, destaca. Na obra, ela reflete sobre infância, maternidade, luto, redes sociais e relacionamentos. Temas que também são recorrentes no site e nas redes do @contente.vc. Só no Instagram, o perfil é seguido por mais de 745 mil pessoas. Os conteúdos são postados diariamente, seis vezes por semana.

A Contente se apresenta como “uma transformadora cultural muito antes mesmo da conversa sobre influência existir”. Um veículo baseado em dados que produz conteúdo autoral e investigativo, pautando conversas contemporâneas em comunidade. Arrais questiona a rigidez da linguagem tradicional jornalística e a dificuldade em encontrar espaço para uma voz mais autoral. “Eu trabalhei na Folha de S. Paulo, fiquei muito nesse lugar tradicional e não deixei desabrochar minha voz autoral porque achava que o jornalismo era isso de texto objetivo, direto.”.

Ao se permitir escrever de outro jeito, ela encontrou novas formas de conexão com o público: “Às vezes, por esse tipo de texto eu consigo chegar em pessoas de outro jeito”. Mesmo ao romper com o formato tradicional, o método jornalístico segue respeitado. A apuração, as entrevistas e os dados fazem parte de sua escrita e se somam – em alguns casos – ao medo, que em vez de ser freio, torna-se bússola. “Ele te ajuda a identificar o que te desafia. Se a gente faz tudo sem medo, talvez já esteja muito confortável.”

Vencido o desafio de lançar o primeiro livro, Arrais já tem planos para o próximo. Desta vez, será para contar a trajetória da Contente e os efeitos da internet na vida das pessoas.

Narrativas jornalísticas

A mesa também explorou como narrativas jornalísticas têm se reinventado por meio de diferentes linguagens, formatos e estéticas no mundo contemporâneo. O jornalista Maickson Serrão revelou bastidores da produção do podcast Pavulagem, que retrata histórias dos seres encantados da Floresta Amazônica. “Nossas dificuldades se relacionam com a logística amazônica, que é diferente do restante do Brasil. Muitos lugares só acessamos com embarcações, com muitos dias de viagem. E também, nem sempre a gente tem acesso aos recursos financeiros que estão centralizados no eixo Rio-São Paulo”, enfatiza. 

O criador do perfil Redes do Beberibe, Victor Moura, também participou do debate. Autor do livro reportagem “Ciclo Histórias pelo Recife”, o jornalista percorreu mais de três mil quilômetros de bicicleta para produzir reportagens socioambientais.

Confira a programação completa

Supervisão: Guilherme Costa

Matéria produzida pela equipe do Portal de Jornalismo ESPM-Rio, em uma parceria com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor).