Resultados foram apresentados durante a sessão “Dados e Tendências” durante o último dia de evento
08/jun/2025
O compartilhamento de notícias falsas em grupos políticos nas redes sociais tem se consolidado como um dos principais obstáculos no combate à desinformação no Brasil. Impulsionadas por interesses ideológicos e pela velocidade das plataformas digitais, essas mensagens se espalham com facilidade, influenciando opiniões, distorcendo fatos e enfraquecendo o debate público.
Dados do relatório Abaixo do Radar, publicação do Aláfia Lab – organização de pesquisa da Bahia que produz conhecimento sobre fenômenos na interface entre política digital e a vida cotidiana -, revelou que 17% dos links compartilhados nos grupos de Whatsapp de extrema direita continham desinformação. Entre esses, 40% eram relacionados ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Na manhã deste domingo (8), terceiro dia do Festival 3i 2025, a coordenadora de comunicação estratégica e inovação da Aláfia Lab, Liz Nóbrega, apresentou na sessão “Dados e Tendências” os resultados do projeto “Circulação de Desinformação na Mensageria”, que teve como objetivo investigar a circulação de desinformação em grupos de extrema direita nos aplicativos de mensagens WhatsApp e Telegram durante a campanha eleitoral das eleições municipais brasileiras de 2024.
Os temas mais recorrentes em mensagens contendo desinformação, além do STF, envolvem economia e política, tanto nacional quanto internacional. O estudo também aponta que boa parte das fake news se concentra nos títulos das publicações, usados como iscas para atrair cliques. Outra estratégia recorrente é a apresentação de textos opinativos como se fossem reportagens factuais, sem qualquer indicação clara de gênero jornalístico, o que dificulta a distinção entre fato e opinião.
Os dados revelam um padrão preocupante que, segundo especialistas, está diretamente ligado à polarização política no país. Nóbrega pontua que é muito difícil separar a cultura da desinformação da polarização política, uma vez que o leitor tende a se informar em veículos que seguem linhas editoriais correspondentes às suas convicções partidárias. “A polarização e a desinformação se retroalimentam. Quanto mais desinformação a pessoa consumir, mais polarizada e radicalizada ela vai ficar. E quanto mais radicalizada ela ficar, mais informações falsas ela tende a consumir também.”
Essa lógica, que faz parte da dinâmica da economia da atenção, dificulta o trabalho dos veículos jornalísticos em um ambiente que já está saturado de estímulos. No caso específico das notícias, certos conteúdos se espalham com mais facilidade do que outros. “Algumas pesquisas mostram que temas que despertam medo e angústia tendem a ser mais compartilhados do que os demais. Isso chama mais atenção do que o jornalismo pautado no equilíbrio e objetividade. O jornalismo não circula nesses espaços”, afirma Nóbrega.
Plataformas como o Facebook disponibilizam programas de checagem de fatos que promovem a sinalização de conteúdos falsos, mas não há um procedimento que garanta que os mesmos usuários impactados pela fake news recebam a errata, sinalizando que aquela publicação foi verificada como falsa. “Estamos em um momento muito delicado e o avanço da inteligência artificial torna o desafio ainda mais complexo. Se já era difícil checar textos, com imagens, fica ainda mais complexo. E nem tudo depende somente do veículo jornalístico. Existem outras questões, como legislação e políticas públicas”, enfatiza.
Matéria produzida pela equipe do Portal de Jornalismo ESPM-Rio, em uma parceria com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor).
Reportagem: Débora Longhi
Supervisão: Guilherme Costa
Foto: Júlia Luparelli