Por Luiz Rodolfo Libonati, da Universidade Católica de Pernambuco
No panorama da chamada “era da informação”, o fluxo digital ininterrupto das notícias está entre os marcadores da nova forma de se consumir conteúdo informativo. Com essa transformação tecnológica, a comunicação demanda novas formas de acesso à informação e também de cobertura jornalística. Hoje, a ronda atenta do fact-checking se faz indispensável na busca por garantir a transparência em um debate público disputado pela desinformação.
Representando algumas das iniciativas jornalísticas, do Nordeste e de todo Brasil, comprometidas ao combate às notícias falsas, compuseram a roda de conversa “Combatendo a desinformação”, no Festival 3i Nordeste, Lucas Maia, diretor de tecnologia na plataforma jornalística de dados Agência Tatu (AL); Ana Rita Cunha, diretora de estratégia e comunidades na investigativa Aos Fatos (RJ); e Carmen Carvalho e Victória Meira Amaral, respectivamente professora e repórter da editoria Xereta do jornal-laboratório Avoador (BA), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, em Vitória da Conquista.
“A gente percebeu que muitas checagens focam no eixo Rio-São Paulo, ou no debate presidencial, enquanto o debate no Nordeste acaba ficando negligenciado”, diz o jornalista Lucas Maia ao tratar da intenção de ocupar essa lacuna no contexto local com a iniciativa jornalística alagoana.
Representando o Aviador, projeto extensionista da UESB, a professora Carmen Carvalho destaca o papel universitário na defesa de um ambiente informativo mais democrático. “Trabalhamos a formação dos nossos alunos e combatemos a desinformação”, pontua. “Desde 2018, criamos a editoria Xereta e temos trabalhado fazendo a verificação de conteúdo viral e falas de políticos. Neste ano, a gente também atuou para levar o jornalismo comprometido com a apuração e mitigar a desinformação no interior da Bahia”.
“Dar contexto aos fatos”
Saber o contexto político de determinado lugar também é central na verificação de notícias, afirma Ana Rita Cunha, do Aos Fatos. “Checagem parece uma coisa super simples, mas, no fim das contas, é dar contexto às coisas. Se você não está ali, não conhece político, não sabe a trajetória, você pode perder nuances muito importantes”, explica. Nesse sentido, a professora Carmen Carvalho explicou como esse aspecto é abordado em sala de aula. “Trabalho a perspectiva de que o jornalismo é transformador e, dessa forma, incluir a verificação é qualificar esse trabalho, porque o estudante não vai só repetir a fala do político, vai saber onde buscar os dados, por que e como”, conta ela.
Perguntada por Lucas sobre o processo de escolha daquilo a se checar e da forma como é medido o impacto sobre leitores, Ana Rita ressalta o cuidado em não visibilizar a desinformação que se encontra restrita a um grupo pequeno: “Quanto mais cedo você checa, maior o impacto na contenção da mentira”. Um exemplo desse balanceamento foi a cobertura, em 2018, do assassinato de Marielle Franco, quando foi disseminada a falsa associação da vereadora com o tráfico de drogas. Após checagem, foi possível observar essa onda baixar e o boato se dissipar. Segundo ela, “é sempre um desafio saber se você não está tirando a desinformação da bolha”.
Tecnologia como arma
“O que é que vai ser agora da desinformação, sem ter um presidente desinformador ou que não desinforma da forma como é agora?”. A partir da reflexão de Ana Rita, entra em discussão um cenário novo com a perspectiva de que o conteúdo informativo deturpado, até então legitimado pelo presidente, se formule de uma oposição. Em cenários assim, se reafirma enquanto braço forte do fazer jornalístico a tecnologia, explica Lucas, que na Agência Tatu utiliza o bot Dandara, inteligência artificial elaborada pelo veículo. “O bot acaba ajudando quando pego as mensagens que foram mais compartilhadas e descubro o que está circulando mais com aquelas palavras-chaves que eu decidi monitorar”.
Outro ponto levantado por Lucas é a credibilidade das checagens de fatos em um panorama onde quem compartilha das fake news aparenta não querer ceder ao conteúdo apurado. “Aí vem uma questão: quem eu poderia chamar para falar? Vamos procurar alguém que entenda do assunto e aí tentar dar uma visão lateral sobre”, relata. Para Ana Rita, vale o exercício de se perguntar quais elementos fazem o consumidor acreditar em uma notícia distorcida. “Quem checa o checador? A gente sempre responde: é o leitor. A ideia da checagem é que tenha ali todas as provas, para que a pessoa possa fazer o próprio caminho”, completa. Como diz a regra básica do jornalismo, escrever para quem lê.
Assista à mesa na integra:
*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i Nordeste entre a Ajor e a Unicap (Universidade Católica de Pernambuco).