Festival 3i 2023: jornalismo inclusivo é possível a partir da ética nas redações

Mesa do Festival 3i debate os parâmetros éticos do jornalismo. Foto: Cadu Guarieiro/FACHA.

Por Emílio César e Juliana Martins , Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA)

A compreensão das questões éticas é essencial para a manutenção da democracia, para construção de um novo fazer jornalístico e para a formação de novos profissionais. São esses os princípios que devem guiar empresas a administração de empreendimentos jornalísticos. Em um ambiente informacional repleto de desinformação, é imprescindível que as redações encontrem um meio para se destacar e conquistar a confiança dos leitores.

A mesa de debate “A ética do negócio e o negócio da ética” trouxe aos participantes do Festival 3i parâmetros para o desempenho dos veículos em relação aos limites éticos. Mediada pela cofundadora e diretora executiva da Agência Pública e presidente da Ajor, Natália Viana, a atividade contou com a participação de Caio Túlio Costa, Fabiana Moraes e Paula Miraglia. 

Especialista em mídias digitais e um dos fundadores do UOL, Caio Túlio Costa abordou a ética com uma visão objetiva. Partindo do conceito de Moral Provisória, Caio questionou a régua que “serve provisoriamente para determinada situação que requer meios moralmente condenáveis para conseguir fins moralmente defensáveis”, resumido pelo famoso questionamento: “os fins justificam os meios?”. 

Caio Túlio Costa, que também é professor e doutor em Comunicação, enfatizou a busca pela objetividade e apontou as mudanças na forma de produzir jornalismo nos últimos anos. “Antes o jornalismo ocupava um espaço de Quarto Poder, hoje isso ficou em segundo plano com tantos atores e instituições ocupando espaços midiáticos, com ou sem formação e credibilidade”. Ele ainda afirmou que as redações tradicionais andam em passos lentos para rever seus modelos de negócios, pois ainda não entenderam, de fato, as redes sociais.

Já a jornalista, escritora, professora, pesquisadora e colunista do The Intercept Brasil, Fabiana Moraes, ressaltou a importância de compreender as subjetividades sociais para a construção de um jornalismo mais inclusivo. “Não tem como discutir ética usando a régua da constituição do jornalismo tradicional”, defendeu. Apresentando os termos de colonialidade, como formação de padrão racional e irracional e o conceito de subjetividade como uma questão coletiva, a doutora em sociologia reforçou a necessidade de expor e criticar a objetividade que contempla apenas uma parcela social. 

“A objetividade serve para quê e para quem?”, questionou Fabiana ao explicar e exemplificar os perigos de favorecer as ideias tradicionais. O caso do assassino Lázaro Barbosa, em 2021, foi colocado em perspectiva de forma analítica, explicitando como a mídia tem potenciais racistas. No mesmo ano que exibiu manchetes acusando o criminoso de bruxaria, por conta de rituais de matriz africana, divulgou uma pesquisa sobre o crescimento das denúncias de intolerância religiosa no Brasil. Ao mesmo tempo que produz conteúdos preconceituosos, denuncia as consequências da disseminação de ódio promovidos pelos próprios veículos. 

Por fim, a cientista social, cofundadora e diretora geral do Nexo Jornal e da Gama Revista, Paula Miraglia, assumiu a mesa. “Eu sou muito otimista em relação ao jornalismo. Ele é fundamental para a democracia, principalmente a brasileira nesse momento. Por isso, precisamos ter essas conversas difíceis”. Miraglia apresentou quatro pontos que considera problemáticos sobre a ética em relação ao jornalismo. 

Primeiramente, a publicidade, que historicamente é a maior financiadora do jornalismo e acaba tendo um espaço de domínio sobre as editorias. Como segundo problema, citou os “dois ladismos” ou a polarização, já que impede a sociedade de enxergar questões sociais de urgência. “Racismo e misoginia não são o outro lado, são um crime e uma opinião inválida”, aponta. Então, o jornalismo versus ativismo entra em pauta, já que o papel do jornalista é trabalhar em um espaço cívico para empurrar a agenda pública de um país. A falta de diversidade e inclusão se firmam como o quarto problema: em um país onde a maior parte da população é feminina e negra, as redações chefiadas por homens brancos. 

Nas considerações finais, os três palestrantes refletiram sobre os desafios de manter parâmetros éticos no jornalismo, destacando a importância do posicionamento social para a democracia. A esperança se mantém nas novas gerações de jornalistas que se mostram interessadas em produzir matérias com temas plurais e inclusivos.  

Assista a íntegra do debate no canal do Festival 3i no Youtube.

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