Por César Ribeiro, Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA)
A última mesa do Festival 3i 2023 foi sobre os possíveis impactos da IA no jornalismo e no debate público. O mediador foi o jornalista Sérgio Spagnuolo, fundador do VOLT DATA LAB e do Núcleo. Sérgio foi Knight Fellow de maio de 2020 a dezembro de 2022, trabalhou também como repórter na Reuters e colaborou com diversos veículos nacionais e internacionais. É diretor da Abraji e coordenador de dados do Atlas da Notícia.
A inteligência artificial é uma das tendências do jornalismo e da mídia nos próximos anos, segundo o Instituto Reuters. A tecnologia pode ajudar no desenvolvimento de produtos e processos dentro das redações, facilitando o trabalho dos jornalistas, mas ainda são necessários debates éticos sobre seu uso, além do aprimoramento e conhecimento das próprias ferramentas pela ciência. A conversa reuniu também Florencia Coelho, Tshepo Tshabalala e Jonathan Stray para um debate sobre os limites e os benefícios da ferramenta.
Logo de início, ficou explícita a surpresa de todos com relação ao desenvolvimento das inteligências artificiais generativas, considerando que a aposta da academia após a pandemia era na tecnologia das criptomoedas, como forma de pagamento.
Florencia Coelho, cofundadora da equipe La Nación Data na Argentina, ingressou no veículo em 2006 como parte do projeto Nueva Redacción para familiarizar jornalistas e gestores com o potencial do digital. Para ela, a época atual poderá ser reconhecida como a era “antes e depois da Covid” e a era “antes e depois do ChatGPT”.
Ela apresentou várias formas de utilizar a IA para o jornalismo, tais como: a análise de imagens produzidas por satélites como áreas florestais utilizadas para criação de gado, a análise de terrenos utilizados com painéis para captação de energia solar e ou a análise de grandes conjuntos de documentos governamentais. Contou também que o La Nación começou a testar a tecnologia de IA buscando as palavras mais comuns em letras de canções de Trap, estilo musical em alta na Argentina. O veículo também utilizou a tecnologia nas eleições no país, para tentar buscar inconsistências no preenchimento das fichas de controle das urnas, os Telegramas Eleitorais.
Tshepo Tshabalala, gerente do Journalism AI, projeto de pesquisa da London School of Economics and Political Science, também abordou como a tecnologia pode ajudar no jornalismo que queremos produzir: “A Inteligência Artificial não vai roubar nossos empregos. Ela vai ajudar a gente a melhorar”.
Ele destaca a importância de começarmos a explorar ainda mais seus usos. “Não tenha medo da Inteligência Artificial. Ela é apenas uma nova tecnologia. É um novo Instagram ou Tik Tok. Não tem que ter medo. Mas devemos levar em consideração que, como qualquer outra ferramenta, ela pode errar”, afirmou.
Tshabalala avalia que no caso do Panamá Papers, por exemplo, um número infinitamente maior de documentos poderia ter sido analisado se a IA tivesse sido utilizada, ao invés da análise feita de forma manual. A Inteligência Artificial também pode ser utilizada para a criação de textos, imagens e inclusive para a análise de terrenos com minas durante a guerra da Ucrânia. Durante as eleições, pode ser utilizada para confrontar discursos de candidatos em diversos momentos de uma campanha e após as eleições. Na Holanda, ele contou que foi feito um estudo onde a IA observou o comportamento dos usuários durante a navegação num site, o que possibilitou a conversão dos usuários em assinantes do veículo. A IA também já foi utilizada como mediadora em comentários de postagens em redes sociais, proporcionando aos administradores a opção de excluir ou não os comentários indesejados.
Jonathan Stray, cientista sênior do Center for Human Compatible AI na UC Berkeley, foi outro dos convidados da mesa. Ele também apresentou formas de utilização de IA, mas reforçou a necessidade de muita evolução na tecnologia, ainda.
Ressaltou como o Chat GPT é complexo e até capaz de descrever uma imagem, mas lembrou que a internet sempre foi cheia de “lixo informativo” e que o grande desafio atual e futuro é descobrir formas para apurar se as informações operadas são verdadeiras ou tratam-se de informações falsas. Para ele, o uso da AI “saiu de copiar e colar e agora reescrevemos a história. Porém, devemos ser cautelosos para evitar que a tecnologia seja usada de forma irresponsável”.
Stray acredita que, num futuro próximo, as imagens deverão possuir uma assinatura digital na qual ficarão registradas todas essas modificações e em todas as plataformas. Também vê uma evolução na validação de imagens, textos e materiais postados: “as redações terão que se preocupar em como comprovar a originalidade de todos os materiais produzidos”, completa.
Assista à mesa na íntegra:
*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2023 com as Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA).
Foto: Heros Cegatta.