Workshop do Festival 3i, no Rio de Janeiro, recebeu os jornalistas Guilherme Valadares e Natália Leal para uma conversa sobre saúde mental de jornalistas. Na imagem, está Valadares, do Papo de Homem. Foto: Any Duarte, @aquelaany
Por Luíza Quintanilha, Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA)
O debate sobre a saúde mental nas redações foi destaque no Festival 3i 2023. No terceiro dia do evento, o público participou do workshop “Oxigênio: primeiros socorros emocionais para jornalistas”, ministrado por Guilherme Valadares, fundador e criador de conteúdo no Papo de Homem, e mediado por Natália Leal, CEO da Agência Lupa.
A saúde mental vem se tornando um tópico cada vez mais discutido na sociedade e nas redações, mas nem sempre foi assim. Ainda existe um grande tabu em torno do assunto, além de muita desinformação. “Nos últimos anos, essa conversa vem mudando: a pandemia foi um grande incremento para o assunto”, afirmou Valadares, que é professor de equilíbrio emocional.
Segundo ele, ansiedade, medo do futuro e autocobrança são desabafos frequentes feitos por jornalistas. A saúde mental destes profissionais piorou nos últimos anos, principalmente com a pandemia. “Atualmente se fala em uma verdadeira epidemia nas redações, com diversas mentes adoecidas”, disse. As maiores queixas são falta de empatia, falta de reconhecimento, comunicação agressiva, sobrecarga, entre outros.
O jornalista explicou o conceito de “injúria moral”, que é “o dano causado à consciência ou bússola moral de uma pessoa, após testemunhar, causar ou não prevenir atos que passem por cima dos seus próprios limites éticos”, e como vários jornalistas são suscetíveis a essas situações em suas rotinas.
Leal, da Lupa, deu um exemplo próprio contando da época na qual teve que fazer a cobertura da Boate Kiss e falar com os pais das vítimas da tragédia. Durante as ligações, Natália chorou, tendo sido consolada e acolhida por um dos familiares. “Hoje me sinto privilegiada em poder dizer não a esse tipo de trabalho”, comenta a jornalista.
Ainda existe uma cultura do silêncio dentro da profissão e, para a mudança surgir, as redações precisam se tornar ambientes mais acolhedores, que tenham compaixão e cuidado com a saúde emocional dos profissionais. Valadares afirma que o “apoio psicológico, comitês, palestras e treinamentos serão necessários para um futuro melhor dentro das redações”.
O objetivo, segundo ele, é que o padrão seja o de redações cada vez mais emocionalmente saudáveis. “Continuar fazendo um jornalismo de qualidade, como o usual, porém mais consciente do impacto emocional nas pessoas e nos próprios jornalistas”, conclui.
Conheça três dicas de como começar a aplicar essa mentalidade na sua rotina de redação:
- Se escutar e estabelecer seus limites;
- Levar a sério a hora de descanso, entendendo que também é uma necessidade;
- Saber a hora de pedir ajuda.
*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2023 com as Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA).