Pesquisa apresentada no evento analisa como conteúdos misóginos têm sido monetizados nas plataformas digitais
06/jun/2025
“A gente percebe muitos homens perdendo as referências masculinas, o que afeta a expressão das masculinidades. Por outro lado, tem mulheres muito jovens se identificando como feministas. Isso cria uma separação grande entre os gêneros, tornando as relações mais difíceis.” A análise é da pesquisadora do NetLab UFRJ, Luciane Belin. Ela apresentou a sessão de Dados e Tendências “Quando a misoginia vira negócio: discursos e monetização da machosfera no Youtube”, nesta sexta (6), primeiro dia do Festival 3i 2025.
Belin fez um recorte sobre a machosfera, termo usado para fazer referência a uma rede de sites, canais e comunidades digitais onde são compartilhados conteúdos direcionados a homens. Esses materiais têm um conteúdo antifeminista e de defesa dos papéis tradicionais de gênero. “Eles são muito profissionais, com conteúdos feitos em estúdio, com câmera. Os canais têm logo e toda uma identidade visual. A gente percebe que há um investimento na qualidade técnica.”
Com essa estrutura, a machosfera explora os recursos das redes sociais para transformar os canais em negócios. “Se construiu um mercado de conteúdo misógino no YouTube, que a partir daí a gente sabe que também ganhou outras plataformas”, alerta a pesquisadora.
Ela acrescenta que redes como o TikTok impactam o desenvolvimento da geração atual, incluindo os homens mais jovens que estão começando a se envolver com mulheres. Nos conteúdos divulgados, alguns influenciadores exploram técnicas de desprezo às mulheres, defendem papéis tradicionais de gênero e a submissão feminina, o que pode gerar desde ataques ao caráter das meninas, como casos de violência e feminicídios.
Dados da pesquisa “Aprenda a evitar ‘este tipo’ de mulher: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube”, realizada pelo Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, parceria do NetLab-UFRJ com o Ministério das Mulheres, apontam que os canais com comportamentos misóginos são mais monetizados que aqueles que não exploram esses conteúdos, e que 52% tinham ao menos um anúncio, evidenciando que os produtos misóginos circulam e geram monetização não só para os influenciadores, mas para a plataforma também.
A pesquisa, apresentada durante a sessão desta sexta, identificou 137 canais brasileiros com ao menos três conteúdos misóginos, que juntos, acumulam 3,9 bilhões de visualizações, cerca de 105 mil vídeos e 152 mil inscritos. Quase 90% desses conteúdos foram publicados desde 2021 e cerca de 80% das publicações têm ao menos um recurso de monetização ativa, como programa de membros, superchat, anúncios, venda de cursos ou mentorias.
Matéria produzida pela equipe do Portal de Jornalismo ESPM-Rio, em uma parceria com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor).
Supervisão: Guilherme Costa
Foto: Gabi Falcão