NOTÍCIA

Festival 3i 2025: gestoras de organizações de jornalismo debatem equidade racial e de gênero nas redações

Representantes da AzMina e da Agência Mural levaram ao evento perspectivas sobre mulheres e pessoas negras no jornalismo, sobretudo em cargos de liderança

POR Julia Motta |

08/jun/2025

“Eu vejo o jornalismo de fato como um transformador social, que não só pauta essa transformação a partir da cobertura, mas ele é a transformação em si.” A afirmação é da jornalista Marilia Moreira, diretora institucional do Instituto AzMina, focado na cobertura de temas diversos com recorte de gênero. Ela apresentou a sessão de Diálogos e Tendências “Equidade racial e de gênero nas redações é possível”, ao lado da diretora e cofundadora da Agência Mural, Cíntia Gomes, neste sábado (7), segundo dia do Festival 3i 2025.

Para contextualizar, Gomes apresentou os dados da pesquisa “Perfil do Jornalista Brasileiro (2021)”, liderada pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro/UFSC), em parceria com a Rede de Estudos sobre Trabalho e Profissão (RETIJ) e a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). A análise mostrou que, de 2012 a 2021, houve um crescimento de jornalistas negros (de 23% para 30%) e que, no Brasil, a imprensa é composta majoritariamente por mulheres (58%), brancas (68,4%), solteiras (53%), com até 40 anos. Apesar da presença feminina ser maioria, as mulheres não assumem cargos de liderança, têm a tendência de sair mais cedo do jornalismo e ganham menos em relação aos homens.

Sob a perspectiva racial, ainda persistem barreiras significativas no campo da comunicação. Entre os principais desafios enfrentados estão a dificuldade de inserção no mercado jornalístico, a discriminação e a limitação no acesso a cargos de liderança. Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de promover um olhar mais atento e comprometido com a diversidade nas redações. “Quem pauta o jornalismo, pauta também o olhar da sociedade, com quem a gente dialoga”, destaca Gomes.

A Mural é uma agência de notícias, de informação e de inteligência sobre as periferias das cidades da Grande São Paulo. A equipe é composta por 72% de pessoas negras, e as mulheres são maioria. A instituição representa as regiões periféricas com menos acesso aos direitos, negligenciadas pela imprensa em geral, cujas histórias têm menos visibilidade. “Não é só você colocar uma pessoa negra. É a gente entender que também deve investir para que esses jovens que estão chegando sejam lideranças”, destaca a diretora institucional do veículo.

Para Moreira, da AzMina, no mercado atual de jornalismo, existem profissionais diversos dentro das grandes redações e que manifestam interesse pelas pautas sociais, mas que nem sempre conseguem emplacá-las. “Se a gente fala de empresas privadas, de organizações com fins lucrativos, muitas vezes o conteúdo está muito focado no que vai dar retorno financeiro e as discussões mais estruturais e amplas não têm nem espaço.”

Matéria produzida pela equipe do Portal de Jornalismo ESPM-Rio, em uma parceria com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor). 

Reportagem: Julia Motta
Supervisão: Guilherme Costa
Fotos: Kaylane Pedroso

Confira AQUI a programação completa do Festival 3i 2025.